JULIA
Minha
primeira filha, Julia, nasceu há 2 anos, após uma gestação perfeita, de 40
semanas. O pré natal foi feito com meu médico particular. No dia do parto as
contrações começaram muito brandas às 4 h da madrugada e às 7 h fui para a
maternidade, onde a obstetriz constatou 2 cm de dilatação e contrações a
cada 10 minutos. Havia um longo caminho pela frente. Meu médico chegou perto
das 8 h da manhã e disse que o bebê estava “muito alto” e o colo do útero
ainda se apresentava grosso e pouco dilatado. Para evitar que o bebê sofresse
eu deveria me submeter a uma cesárea. Naquela situação e naquela época, não
ousei questionar. Se o médico estava dizendo, é porque não havia outra
alternativa. Soube depois, por ele mesmo, que eu poderia ter um parto normal,
mas isso ainda teria levado umas 6 horas. Deus sabe que nunca tive medo de
esperar!
Às
10 h da manhã minha filha nascia por trás de uma parede de tecido azul. Eu
tinha os dois braços atados e só a vi depois de embrulhada. Dei-lhe um rápido
beijo na face, já que não podia tocá-la e lá se foi meu bebê para a avaliação
pediátrica e outras rotinas.
Minha
recuperação da cirurgia foi bastante desagradável. Tive dor nas costas por
andar curvada e dores na barriga, na região da cirurgia, ao longo de pelo menos
duas semanas. O leite demorou a descer e aos 10 dias de vida minha filha começou
a tomar leite de vaca (NAN), já que estava perdendo peso sem parar. Tive
depressão por cerca de 6 semanas. Minha barriga demorou muito a desinchar, mal
parecia que o bebê já havia nascido.
A
entrada da Julia em minha vida me trouxe uma alegria infinita, mas nunca deixei
de imaginar se eu não poderia tê-la trazido ao mundo com minhas próprias forças.
HENRIQUE
Engravidei
novamente após 19 meses. Perto do 3º mês de gestação, vi um documentário
na TV a cabo GNT, feito no Rio de Janeiro, mostrando formas alternativas
tradicionais de parto normal. Aquelas imagens de tantas mulheres trazendo seus
filhos ao mundo, nas mais diversas idades, com os mais variados estilos de vida,
me fizeram tomar uma decisão que iria mudar minha vida: meu segundo filho
nasceria de parto normal.
Agora
tinha outra batalha pela frente: achar um médico que acreditasse ser possível
essa façanha, tendo eu 34 anos e uma cesárea prévia. Encontrei-o em Campinas,
numa clínica de homeopatia e parto ativo, por indicação da Casa do Parto
(RJ). Em nenhum momento ele duvidou da minha capacidade e ao longo do pré-natal
me incentivou a praticar exercícios e me preparar para o parto normal, seja lá
a forma que ele viesse a tomar.
Confesso
que não tive persistência para me exercitar adequadamente, mas controlei meu
peso e me informei sobre o parto ativo. Estive o tempo todo muito confiante. Ao
final da 40º semana, depois de trabalhar a manhã toda, senti as minhas
primeiras contrações. Eram quase 2 h da tarde. Elas vieram muito fortes, desde
o começo, com intervalos de 5 minutos e duração de 40 segundos. Chamei meu
marido no trabalho, avisei meu médico em Campinas e cheguei à maternidade
Santa Joana (SP) às 17 h. Tinha 1 a 2 cm de dilatação e as contrações
estavam bem doloridas. Fui para a sala de pré-parto e as condições do bebê
foram avaliadas. Até esse momento, todos os profissionais que encontrei acharam
bastante improvável que a criança nascesse de parto normal. Meu médico chegou
às 20 h, as contrações estavam mais doloridas e os intervalos já eram de 3
minutos. No entanto a dilatação ainda era de 2 a 3 cm.
Às
22 h desisti, pois a progressão estava muito lenta e em 8 horas de um duro
trabalho de parto, tudo que havia conseguido eram 3 cm e dores já à beira do
insuportável. Pedi ao meu médico, com muita tristeza, que fizesse a cirurgia.
Fomos à sala de cirurgia, quando o anestesista de plantão propôs uma forma
combinada que permitiria que a dilatação fosse acelerada com soro, enquanto um
catéter em minha medula iria eliminar as dores, injetando uma combinação de
drogas anestésicas de tempos em tempos. Pedi que fosse feito, e aquilo foi o
paraíso! Pela eliminação da dor, por acelerar a dilatação e por permitir,
por fim, que o parto fosse normal.
Durante
3 horas e meia fiquei anestesiada como numa peridural, tendo todas as sensações,
menos dor, da cintura para baixo. Senti cada contração e a dilatação atingiu
o máximo em menos de 3 horas. Entrei no período expulsivo, que foi bastante
dolorido, mas eu sabia que seria curto, pelos informes que meu médico ia dando
à medida que o parto avançava. Fiz força, gritei, ajudei no que pude e à 1 h
e 30 min da madrugada eu trouxe meu bebê (Henrique) ao mundo. Ele me foi
mostrado ainda preso ao cordão. Depois de embrulhado pude segurá-lo, beijá-lo
e sentir seu corpinho junto ao meu. Só então ele foi levado para a avaliação
de rotina.
Eu
estava imensamente feliz e emocionada. Me senti completa e orgulhosa pelo meu
feito, sem esquecer em nenhum momento, que o motivo do meu orgulho só foi possível
graças à perseverança do meu médico e à solução perfeita do anestesista.
Meu
marido não assistiu ao parto (nem ao primeiro). Dei-lhe a liberdade de
escolher. Honestamente, fiquei feliz com a decisão que ele tomou. Da minha
parte, acho que o parto, especialmente o normal, é um momento muito particular
da mãe. Não teria me sentido tão à vontade para me entregar a essa experiência
de corpo e alma como o fiz. E em nenhum momento a decisão por ele tomada
tornou-o um marido e pai menos valioso.
Minha
recuperação foi mágica. Seis horas após o parto eu já estava tomando banho,
andava com a coluna ereta, sentava e me levantava com se nada tivesse
acontecido. O corte da episiotomia incomodou por 3 dias e depois não o senti
mais. O leite veio em abundância no 3º dia. Não tive nem sinal de depressão.
A barriga desinchou rapidamente. Estava novinha em folha!
Hoje,
9 dias depois dessa maravilhosa experiência, se me perguntarem que tipo de
parto escolheria para a próxima gravidez, responderia no ato: parto normal.
Moral da minha história? Deus abençoe os médicos que sabem ouvir e os
anestesistas que sabem falar!
Ana Cris